Tela A caipirinha é da fase de influência do
cubismo sobre a artista brasileira, uma das ícones do modernismo
Tarsila do Amaral (1886-1973) já é a artista
mais cara do Brasil. O leilão de sua tela modernista A caipirinha, de 1923,
cujo lance inicial era de R$ 47,5 milhões, fez sua cotação disparar no pregão
da Bolsa de Arte, comandado por Jones Bergamin. A tela, vendida para um
colecionador brasileiro, foi disputada por três pessoas, teve 19 lances e
alcançou o estratosférico valor de R$ 57,5 milhões, inferior ao seu recorde no
exterior, o da tela A lua (1928), vendida para o Museu de Arte Moderna de Nova
York no ano passado por US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões). Nunca uma
obra de arte brasileira alcançou esse preço. Os maiores valores registrados até
hoje foram de obras assinadas por Guignard e Lygia Clark. O primeiro chegou a
R$ 5,7 milhões com Vaso de flores, em 2015. Lygia Clark teve sua Superfície
modulada nº 4 arrematada por R$ 5,3 milhões em 2013 (valores não corrigidos
pela inflação).
Mais recentemente, uma tela menos conhecida
de Tarsila, também do período modernista, foi colocada à venda por US$ 7
milhões (cerca de R$ 36 milhões), numa feira on-line internacional. Desde 1995,
sua cotação no mercado não parou de subir. Naquele ano, o empresário argentino
Eduardo Costantini comprou a mais conhecida tela de seu período antropofágico,
Abaporu (1928), por US$ 1,3 milhão num leilão em Nova York. A pintura foi vista
pela última vez no Brasil na exposição Tarsila popular, no Masp, que recebeu
400 mil visitantes.
Depois de percalços jurídicos, o leilão de A caipirinha (um óleo de 60cm x 81cm) foi, afinal, realizado. A pintura é alvo de disputa judicial entre Carlos Eduardo Schahin, filho do empresário Salim Taufic Schahin, envolvido na operação Lava-Jato, e os 12 bancos a quem seu pai deve. A venda do quadro ajudaria a pagar essa dívida. No entanto, Carlos Eduardo alega que a obra foi vendida a ele pelo pai em 2012, por R$ 240 mil. Os credores questionaram a legitimidade da operação.
O advogado de Carlos Eduardo Schahin, Márcio
Casado, entrou com medida cautelar para impedir o leilão. O Superior Tribunal
de Justiça (STJ) rejeitou. Mas determinou que o valor obtido não irá
imediatamente para os bancos credores, ficando numa conta específica até o fim
desse processo judicial e que o comprador precisa ser notificado de que o
julgamento final pode reverter o entendimento atual.
Sob a guarda inicial de Olívia Guedes
Penteado, primeira proprietária da tela e mecenas dos modernistas, a pintura
foi herdada por sua filha, Carolina Penteado da Silva Teles e, posteriormente,
comprada pelo empresário Salim Taufic Schahin. Há poucas obras do período
modernista de Tarsila disponíveis no mercado e poucos colecionadores têm uma
tela da artista de importância histórica comparável a essa pintura, realizada
em Paris um ano após a Semana de Arte Moderna de 1922.
REFERÊNCIA
Esse é um quadro considerado pela artista uma
de suas melhores pinturas do período modernista. Tarsila, em 1923, estudava
pintura com os cubistas em Paris – e A caipirinha reafirma a influência de
Léger na composição – quando escreveu uma carta aos pais comunicando sua
intenção de registrar numa tela suas lembranças de infância na fazenda. “Quero,
na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas no mato, como
no último quadro que estou pintando”.
Fonte: O Estado de Minas
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